Celeste Miranda – “Dá à U.I.T.I. o que sabes, aprende o que quiseres.”

Recordações

por seu marido, Herberto Manuel de Miranda

A sua juventude desenvolveu-se entre Lisboa e Caldas da Rainha. Sempre manifestou um forte poder de comunicação. Alegre e atraente, ainda na juventude, manifesta a sua vocação para o trabalho e comunicação social. Iniciou a publicação da “Corneta do Diabo”, jornal manuscrito, que lia e distribuía pelos colegas, ainda nos primeiros anos do Curso Comercial, com a idade de 12 aos 14 anos.
Cursou o Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. tirando todos os cursos: Finanças, Economia, Aduaneiras e Diplomáticas. E se mais houvera mais tiraria.
Viajar era o seu grande sonho, o que levou os colegas a dedicar-lhe caricaturas e poesias, envolvendo a sua alegria e boa disposição em viagens pelo “Universo”.
A Celeste era alegre, bem disposta, encarando de frente a adversidade, sempre que as circunstâncias a levavam à luta.

O trabalho para ela nunca foi sacrifício. Como professora, deu sempre o melhor de si, respeitando a justiça no julgamento das provas dos seus alunos, apesar das pressões, tão correntes naquela época, dos poderes directivos em benefício deste ou daquele aluno.
Na adversidade, com a morte de seu filho, por doença de coração, revelou uma grande coragem. O que queria para o filho passou a desejar para os outros. Através da Cruz Vermelha passou a dar aos soldados que combatiam em Angola o que de melhor dispunha para o filho e foi assim que a “Avô Celeste” os assistia como se fossem filhos de seu filho e toda a carta recebida tinha resposta como de seu neto se tratasse. As horas não contavam. O que era fundamental era atender às ansiedades de notícias dos que em África combatiam.
Nas enxurradas que assolaram a região de Lisboa na década de 60, foi destacada para Loures. Lá foi no seu carro pelas estradas destruídas, sem abandonar o serviço dos seus “netos”, dar o melhor de si atendendo às vítimas sobreviventes e na ajuda à recuperação dos 500 e tantos corpos dos que perderam a vida. Foi prova a que resistiu, sempre com a mesma coragem e determinação com que se dedicava ao trabalho.
Participando no congresso de Alergologia que a levou a Angola e São Tomé e Príncipe, arranjou tempo para visitar os seus “netos” e interessou-se pelas crianças e por todos os naturais que estavam a passar dificuldades.
O fim das campanhas do Ultramar levou-a a criar o seu segundo órgão de comunicação social: “Humanidade”, revista da Cruz Vermelha Portuguesa, que teve grande projecção no estrangeiro e que o ambiente social que a envolveu depois do 25 de Abril, aconselhou a deixar a sua Direcção, apesar dos convites para visitar as C.V. de outros países. Paralelamente à sua acção na C.V., vínhamos desde 1967 programando e desenvolvendo o plano da Universidade Internacional para a Terceira Idade, com objectivos notórios, tais como o saber dos idosos e o respeito que merecem os povos africanos, manter uma ligação cultural entre os espaços envolvidos pela cultura Luso-Africana, até que a tensão entre os diversos grupos de pressão, que se criaram em consequência da independência das províncias ultramarinas e da pressão das instituições Financeiras Internacionais bem informadas, encontram naqueles territórios campo vasto para investimentos de alta rendibilidade.

A Celeste, sempre presente na comunicação social, ao deixar a revista “Humanidade” logo criou a revista “Gerontologia” da U.I.T.I e, com a minha colaboração, deu início à acção da Universidade Internacional para a Dra. Celeste na sua juventude Terceira Idade, que encontrou grande receptividade no País e organismos internacionais, mas para seu desenvolvimento previsto, encontraram pouco interesse por parte dos executivos e mesmo resistências, por parte de entidades que que neste projecto viam como um espaço para investimentos de boa rentabilidade.

Apesar das grandes resistências que acabaram por impedir a realização do projecto inicial mais amplo e generoso, Celeste e seu marido do que lhes foi possível realizar, sentem grande orgulho e guardam a melhor recordação de todos os que colaboraram nos cursos de Geriatria realizados nos auditórios da Fundação Calouste Sarkis Gulbenkian, nos congressos de Gerontologia e Geriatria e daqueles que procuram desdobramentos da U.I.T.I. de Norte a Sul do País estando hoje a funcionar algumas dezenas, sob designações que vão de Universidade a Academias, organizadas por professores ou alunos da U.I.T.I..